Estimados, por motivos de força maior (entenda-se, por motivos profissionais) tive que me ausentar durante uma temporada. De qualquer forma, aqui estou de volta.
Em jeito de rentrée, deixo-vos um texto sobre a diferença entre lurkers e mavens. Espero que vos seja útil!
O tipo de comportamento que cada indivíduo adopta dentro de uma rede social influencia as difusões de inovação. Ou seja, a dinâmica da informação depende do papel adoptado pela pessoa (ou nó): alguns podem ser mais activos e informar outros membros através da partilha de informações (tal como os mavens e os líderes de opinião), outros poderão ser os primeiros a adoptar novas práticas (como é o caso dos inovadores); enquanto que outros podem simplesmente observar (lurk), ou seja, não contribuir directamente para a discussão e partilha de informações (lurkers).
A longo dos anos a estes influenciadores diários têm sido atribuídas muitas designações e até mesmo definições, mas uma característica comum tem-se mantido: o seu poder de espalhar informação e de influenciar pessoas.
Uma dessas designações consiste nos mavens de mercado (ou peritos de mercado). A palavra “maven” vem do Yiddish e significa aquele que acumula conhecimento. Um maven é portanto um indivíduo que dispõe de informações sobre diferentes tipos de produtos, lugares para fazer compras, e outras características sobre o mercados, é capaz de iniciar discussões com consumidores e responder a pedidos de informações dos consumidores. Por essa razão, são simultaneamente fornecedores e inquiridores de informação.
Por outro lado, os “lurkers” são descritos pejorativamente como invisíveis, membros de comunidades online silenciosos, aqueles que não contribuem com a publicação de mensagens num grupo, publicadores infrequentes, ou mesmo aqueles que não têm publicado nos últimos 3 meses. Estes inactivos, periféricos, e (não consensualmente) participantes não-produtivos têm sido considerados por alguns como um problema para a comunidade, egoístas “free-riders”, e membros ilegítimos de uma comunidade.
Na última década diferentes resultados de investigações revelaram que em muitas comunidades online a maioria dos membros são lurkers. Segundo a teoria de Jakob Nielsen de “90-9-1”, 90% dos utilizadores são lurkers; 9% publicam posts, de tempos em tempos, e 1% participa e contribui.
Este facto torna claro que há limitadas evidências e limitada compreensão sobre a maioria dos membros da comunidade e sobre o valor que estes indivíduos podem fornecer (se algum), resultando num novo interesse sobre eles.
Graças aos estudos de Nonnecke (Nonnecke 2000, Nonnecke et al, 2006;. Nonnecke e Preece, 1999, 2000 , Nonnecke et al, 2004), as visões negativas começaram a ser substituidas por uma perspectiva positiva. Os lurkers passaram a ser vistos como tendo um comportamento desejável, uma vez que minimizam as perguntas repetitivas e a sobrecarga de mensagens, para serem aceites como membros da comunidade por membros activos, e para serem reconhecidos como capazes de aprender através do relato de experiências de outros. Se todos os lurkers delurked (termo usado quando um utilizador publicou ou participou pela primeira vez na comunidade), as comunidades na sua forma actual tornar-se-iam num caótico espaço de mensagens. Além disso, lurking consiste num processo altamente activo, metódico, e conduzido por objectivos, contribuindo para a satisfação de um conjunto de metas definidas pelo utilizador relacionadas com a inscrição no grupo online.
A falta de uma participação online visível não significa, necessariamente, que os lurkers assumem um papel passivo em relação às informações obtidas a partir de publicações dos restantes membros da comunidade em diferentes cenários e contextos. Por esse motivo, alguns investigadores usam a expressão de participante não-público/não-visível para melhor descrever este grupo, uma vez que há um grande número de canais de comunicação “bastidores”, que muitas vezes escapam à nossa análise. De facto, pouca ou nenhuma investigação se centrou no comportamento/interacções dos lurkers fora da comunidade, num ambiente online ou offline, e como poderá estar relacionado com a sua experiência online de lurking.
Conclui-se assim que nem todos os membros da rede social são igualmente influentes na difusão de informações ou de passa-palavra. Isto é alguns consumidores estão mais propensos do que outros a disseminar informações sobre um produto ou mercado, e, portanto, poderão ser mais valiosos para as empresas, ressaltando a importância de conhecer bem o nosso público-alvo.